Indústria 4.0: O novo normal na Indústria será digital?

Fonte: Dinheiro Vivo

 

No contexto económico do final do século XX, muitos economistas acreditavam que o setor industrial não tinha forma de sobreviver no ocidente e o enfoque deveria ser a expansão dos serviços. A principal razão era de natureza pragmática: as empresas industriais mudar-se-iam para países de baixos salários.

Nos últimos anos, esta visão tem vindo a ser desafiada e o apelo à reindustrialização da Europa é crescente. O decréscimo do peso da Indústria no PIB Europeu, a perda constante de empregos no setor e a incerteza global sobre a política de trocas comerciais voltou a trazer o tema para o topo da agenda. A crise económica provocada pelo confinamento e o encerramento das atividades económicas no âmbito da pandemia COVID-19, expôs a forte dependência das economias desenvolvidas em relação às cadeias de valor globais.

É hoje consensual que o crescimento económico europeu, e por maioria de razão o português, deverá necessariamente ser também sustentado pelo investimento em unidades produtivas de bens transacionáveis, o que pressupõe um novo paradigma de produção industrial, com incorporação de produtos de valor acrescentado, inovação e tecnologia.

O setor industrial passou por várias fases de transformação, desde que no século XVIII se iniciou o que se designa por primeira revolução industrial, alavancada pela introdução da motorização a vapor. No final do século XIX, o recurso à energia elétrica como forma de motorização de máquinas deu origem ao que se considera ser a segunda revolução industrial, permitindo a introdução do conceito de produção em massa. Já em meados do século XX, inicia-se a Terceira Revolução Industrial com o aparecimento dos semicondutores, computação e a Internet.

No entanto, implementar uma estratégia de digitalização não se trata apenas de investir em novas tecnologias e ferramentas para melhorar a eficiência da produção, mas sim revolucionar a forma como todo o negócio opera e se desenvolve. As estatísticas demonstram que 70% dos programas de transformação digital não atingem os seus objetivos, muitas vezes com consequências dramáticas para as organizações. Dos gestores não se espera que tenham o domínio das tecnologias, mas é crítico que tenham a capacidade de articular o valor do digital para o futuro das suas organizações e consigam liderar de forma eficiente o processo de transformação. Apenas desta forma podemos evitar os erros do passado e construir uma base produtiva verdadeiramente sustentável e capaz de competir no mercado global.

António Vaz, Teaching Fellow na AESE Business School

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